Quarto capítulo da análise de Clélia Paes sobre o filme “A cor púrpura”, de Alice Walker!
Mas, ironicamente, os dois maiores símbolos de humilhação de Emerenciana constituem sua grande chance de cura. E é exatamente isso o que acontece quando Augusto traz sua amante Dalva, que estava doente, para morar com a família.
No início, ela também trata Emerenciana como um serviçal (admitindo depois que tinha ciúmes dela com Augusto, mas com tempo elas passam a ser amigas e se tornam amantes). A partir deste ponto a dinâmica psicológica vai mudando, sempre influenciada pela rebelde Dalva.
Este fato dá início ao que destaco como parte do meu recorte, exatamente, numa situação em que Emerenciana percebeu-se mulher pela primeira vez, que se sentiu amada e desejada por outra pessoa.
A partir deste acontecimento é que Dalva queria demonstrar para além do prazer físico (muito além), uma afetividade por Emerenciana; queria mesmo proporcionar a essa moça uma emoção nova, um sentimento novo, algo que fosse capaz de elevar a sua autoestima, de fazê-la perceber-se como um ser capaz de amar e de ser amada, de desejar e de ser desejada por uma outra pessoa.
Dalva não tem falsa modéstia sobre a relação sexual e transfere a sua liberdade para Emerenciana de forma prática, fazendo a sorrir de maneira fácil e descontraída tocando na genitália da amiga, ao tempo em que mostra pra ela a liberdade de adorar a Deus na plenitude da criação ao ligar a ideia de prazer físico à liberdade espiritual – uma crença não convencional, mas que Emerenciana caminha na orientação parcial da sua cura através de sua associação com Dalva passando a segui-la onde quer que ela fosse, tamanha era a admiração que nutria por ela.
Ao descortinar essa outra face da sexualidade de Emerenciana, Dalva torna-se uma figura significativa para ela, uma referência, pois, apesar de muito feminina, ela é também dominante e poderosa.
Dalva conduz a cura de Emerenciana até haver o completo rompimento com o ciclo de violência, descobre novamente o amor e luta com vivacidade por recuperar o seu orgulho e dignidade, tão desprezados e minimizados pelos outros, por isso, sai de casa de seu esposo para recomeçar uma nova vida ao lado dos seus filhos (já adultos) e de sua irmã Sofia (que os criou) numa casa confortável que ela herda.
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*Clélia Paes tem mais de 25 anos na Área da Educação como Linguista, Pedagoga e Psicopedagoga. Agregou a Psicanalise a seu currículo com responsabilidade, ética e transparência!