Quinto capítulo da análise de Clélia Paes sobre o filme “A cor púrpura”, de Alice Walker!
Para finalizar, contextualizo a postura de Emerenciana em duas fases distintas, quais sejam: a repetição sucessiva de comportamentos histéricos, que parecia intensificar as atitudes de exploração de Augusto e, a segunda fase seria aquela da sua emancipação que eu atribuo, entre outras coisas, ao fato do aumento de repertório comportamental, através de Dalva, que fez Emerenciana perceber o seu grau de mobilidade para sair do lugar em que fora colocada.
No primeiro momento, a postura “passiva” de Emerenciana, diante das agressões de Augusto, pode ser entendida e/ou explicada a partir da sucessão de estímulos que ela recebeu para manter-se na posição de serviçal, de mulher negra, de modo que ela foi reforçada durante um longo período de sua vida para agir com obediência. Mais do que reforçada, Emerenciana foi obrigada a viver como viveu; ela não teve opção de escolha, assim como muitas mulheres que ainda hoje, apesar das inúmeras conquistas das lutas feministas, ainda se veem presas de homens como Augusto.
O segundo e triunfante momento dá-se quando Emerenciana passa a interagir com outras pessoas. Essas mudanças vão fazer com que o seu repertório comportamental aumente, isto quer dizer que para fazer amizades e conviver bem em sociedade, torna-se necessário que o indivíduo adquira um repertório comportamental adequado e saiba discriminar as respostas adequadas para o contexto em que está interagindo no momento.
Neste momento, Emerenciana demonstrou flexibilidades para agregar novos conceitos, novas formas de ver o mundo e de comportar-se nele; aprendeu a olhar para si e para os outros com maturidade, com discriminação, com “força de espírito” e, muito resignada, mostrou o caráter de mobilidade humana ao transitar entre dois mundos bem distintos – o da subjugação e o da emancipação. Utilizou-se do veículo perdão para colocar-se acima da “humanidade dos homens”, da ignorância deles.
Na verdade, se observarmos o comportamento social e sexual de Emerenciana até a chegada de Dalva, vamos encontrar uma mulher apática, totalmente rendida aos caprichos e desmandos do seu marido: ” Ele bate em mim como bate nas crianças. Só que nas crianças ele nunca bate muito forte. Ele fala Emerenciana, pega o cinto. As crianças ficam lá fora olhando pelas frestas. Tudo o que eu posso fazer é num gritar. Eu fico que nem tábua, Eu falo pra mim mesma, Emerenciana, você é uma árvore. É por isso que sei que as árvores têm medo dos homens”.
Emerenciana consegue sublimar o sofrimento físico e moral, a que foi submetida durante boa parte da sua existência, através do adultério com Dalva, que tem o agravante, segundo o senso comum, de ser uma relação homossexual, portanto marginal e passível de discriminação. De modo a justificar a sublimação do abuso e da violência pelo viés da sexuação. Sabendo-se capaz de amar e ser amada, de sentir e de dar prazer, Emerenciana supera a timidez, o silêncio e a apatia, transformando a sua agonia anterior em espírito empreendedor e no sucesso financeiro que vem com a maturidade.
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*Clélia Paes tem mais de 25 anos na Área da Educação como Linguista, Pedagoga e Psicopedagoga. Agregou a Psicanalise a seu currículo com responsabilidade, ética e transparência!